Julgo que os acontecimentos em França são como que premonitórios para o que se pode vir a passar em breve noutros países do Velho Continente. São situações sociais dramáticas, desesperantes - que podem assumir - a qualquer momento - a função de barril de pólvora e tomar novas proporções se nada for feito. Refiro-me a medidas de carácrter positivo, ligadas ao emprego, à integração social, à segurança social, à formação profissional, à habitação e a um conjunto de medidas conexas de efeito integrativo no tecido socia das comunidades. É o que tem faltado de forma gritante em França.
Mas o ponto deste breve comentário é sublinhar a amplitude e a força poderosa das massas - que rápidamente se transformam em multidões violentas que destroem tudo que vêm pela frente. Uma vez reunidos alguns homens, basta que um factor-comum acorde neles o que há de comum. E em França, por maioria de razão - que remete para história do país e para a evolução da trajectória das imigrações que lá afluem, existem imensos factores que contribuem para esse recalcamento.
Basta que apareça um condutor hábil que norteie o sentido da fúria, que dê corpo ao grito de revolta, que seja, afinal, o elemento excitador de certos acontecimentos, como aqueles que presenciamos pelas TVs reportando-se às cidades franceses que hoje se encontram sob um barril de pólvora. Quer isto dizer que as massas se transformam sob a influência de múltiplos elementos:
1) Problemas económicos e sociais ligados à desintegração social
2) Paixões exacerbadas
3) Frustração por ver promessas sedutores não realizadas
4) Orgulhos feridos e/ou espicaçados - segundo expressão de Sarkozy - quando nomeou aquela turba de "escumalha". Há certas verdades que não se dizem em público, quanto muito - baixinho e em privado..
5) Ódios de famílias, de partidos ou de seitas
6) Agressividade excitada
7) Desejos de vingança ou de represálias
8) Espírito de destruição sobreexcitado.
É sob o domínio destes factores que as massas se tornam uma multidão violenta, durante mais ou menos tempo, conforme os casos. E essa força ou duração de estados de perturbação (transitória) e de anormalidade pública depende, por sua vez, de outros factores:
- Profissões e classes sociais envolvidas
- Culturas predominantes
- Imaginário simbólico/sistemas de cultura predominantes
- Crenças
- Sugestões
- Antecedentes
- Tipo de organizadores
- Circunstâncias políticas, económicas e sociais
- Categoria dos líderes/condutores de massas em fúria
- Atitudes das forças da ordem perante as acções das multidões
Em suma: convém evitar que as massas de comunidades de imigrantes revoltadas em França não degenerem em multidões. Para isso há que as educar e integrar e dar-lhes condições mínimas de dignidade e de vida, sob pena daquelas necessidades integrativas se transformarem em pormessas por realizar, aumentando ainda mais a revolta e a fúria dos deserdados da vida que estão às portas da cidade para a tomar de assalto.
Um assalto que não faz perigar só a França, mas toda a Europa que padece de problemas semelhantes aos que hoje a França - dramática e surpreendentmente revela à Humanidade.