terça-feira

Pensar, escrever.., agora vira!!

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A Costa dos Murmúrios
de Lídia Jorge

Sempre adivinhei a leitura como uma espécie de cinema mental. Por qualquer insondável alquimia, aquele que lê deixa de, a partir das primeiras páginas, ver os rebanhos de letras e frases impressos no papel. Passa antes a ter projectadas nas folhas do livro florestas de imagens, sons, tonalidades, acções. Abstrai-se dos caractéres negros e encontra dentro de si o que o escritor ousou apenas rabiscar. Dois universos – o do autor e o do leitor – volvem-se assim íntimos. Apesar de apertados. E tanto mais quanto for o talento do escritor para evocar, transformar uma singela palavra num fotograma de imaginação.

Reside aqui a arte de Lídia Jorge. Profeta no manejo da prosa, puxa-nos pela gravata do real e arrasta-nos ao hemisfério da Ficcionalidade. A Costa dos Murmúrios é pródiga nesta florescência de evocações. Dir-se-ia que um sótão de memórias, ao despegar cores, sons e aromas, cria atmosferas susceptíveis de desenroscar a capacidade que o leitor tem de, segundo Barthes, re-escrever o texto.
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