- Revista dirigida pelo Prof. Doutor Adelino Torres.
O nº. 13-14 da Revista Episteme apresenta um interessante conjunto de reflexões sobre o legado de Ilya Prigogine, Nobel da Química e um cientista de valor insuspeito que ainda veio à Gulbenkian mostrar o seu valor. Aqui o leitor mais exigente encontrará um conjunto de fundamentos que nos ajudam a lidar com a incerteza, o risco, a contingência, enfim, o caos. Um pouco como Albert Eisntein, que gostava de poesia, Prigogine deu-nos uma lição de abertura ao mundo, revelando que as estruturas do possível são mais ricas do que as estruturas do real. É o homem do fim das certezas, o que nos obriga a reequacionar todos os nossos alicerces, da economia à política, da sociedade à cultura. Questionando até a nossa própria intersubjectividade.
Deste vulto da ciência e da cultura - guardo ainda uma outra mensagem que me ensinou a ser ainda mais humilde: é o que o movimento de complexificação as coisas, da matéria, a partir de um dado ponto, atinge uma tal massa crítica que faz com que todos entremos num turbihão. Ora é esse turbilhão que creio estarmos a viver sob o signo desregulado da globalização competitiva, muito predatória e pouco personalista. Julgo que o seu legado, se o interpretei bem, nos apontou o caminho inverso que ainda não soubemos trilhar entre os tempos da nossa eternidade.
Oxalá possamos potenciar essas estruturas de dissipação em prol do homem. Do homem do nosso tempo e dos vindouros. Compreender Ilya Prigogine é, de facto, ensaiar uma compreensão do mundo, com o homem lá dentro. Sendo que cada mudança é acompanhada de uma problemática. Hoje parece que é a economia o nó górdio das nossas vidas. Que estuda as interacções baseadas no desejo de riqueza, assim como a física estuda o efeitos das interacções eléctricas e magnéticas. Por mim, enquanto homem empenhado na compreensão de tudo quanto se passa no espaço do meu tempo, como diria Almerindo Marques, apoiado em Sto. Agostinho, apenas desejaria elevar-me ao mundo macroscópico, de forma a ver que a descontinuidade dos fenómenos individuais já não tem qualquer razão de ser, uma vez que a multidisciplinaridades das competências e dos saberes habilita o homem a compreender e até a harmonizar as dinâmicas do seu tempo. Um tempo de risco - que aqui se dissolve se lermos alguns desses ensaios - cujo número foi feito sob a égide e a racionalização da incerteza de Ilya Prigogine.
Quem sabe se com essa reflexão não passamos a dominar melhor a incerteza. Uma incerteza pela qual Heisenberg recebeu o Nobel em 1932, mostrando-nos que não podemos verdadeiramente conhecer nada porque a posição e a lei do movimento perturbavam a racionalidade do homem para fixar e estabilizar conhecimento. Hoje o desafio é outro: o mercado já não absorve os desequilíbrios estruturais, mas amplifica-os, numa tendência natural que os mercados vão consolidando quer contra os Estados, quer contra as pessoas. Gerando desemprego em massa temperado pelo capitalismo selvagem que "fabrica" Gente Feliz com Lágrimas, como titula um romance de João de Melo adaptado com sucesso ao cinema. Será que poderemos aproveitar as teorias dissipadoras de Ilya Progogine para disciplinar os mercados na economia mundial? Esse dinamismo e essa adaptabilidade seriam dispositivos preciosos para regular a regulação - desregulada. Seremos capazes? O objectivo é buscar esse novo paradigma que é a Globalização Feliz - com a economia e os mercados a serem amigos das pessoas e cumplices dos Estados.
O que ainda não sabemos é se o Mundo se mantém tal como Deus o fez no 1º dia e comporta as mesmas espécies inalteradas. Ou se evoluímos para uma qualquer forma de vida diferente. E se sim, qual ou quais...
Alguém tem o telemóvel de Deus?