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Pequena Biografia de Agostinho da Silva


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  • Esta é a biografia oficial de Agostinho da Silva. Mas de inestimável valor, impossível de sistematizar, é, verdadeiramente, o seu currículo escondido. Ou seja, o que ele foi na arte, na técnica, na ciência, na poesia, na filosofia, enfim, na história do tempo e do espaço vividos só o descobrimos percorrendo, aos poucos, o seu trajecto. Feito de um caminho com muitas pégadas, por vezes difíceis de seguir, erráticas mesmo, outras regressando às origens para nos dizer aquilo que supunhamos saber. Como Sócrates, por vezes irritáva-nos, pois afinal nada sabíamos, apesar da nossa presunção que nos fazia supôr que tínhamos o mundo no bolso. Tentaremos aqui, num simples gesto de gratidão, memória e de amizade pura - que acompanhei também no hospital S. Francisco Xavier, outro Santo - que tinha tanto amor para dar que se abraçava às árvores. Foi também aí, quase diáriamente, que verifiquei, ou melhor, aquilatei, o verdadeiro valor da amizade, pois deixei de ver os seus "amigos", os mesmos que o procuravam na sua casa... Mas isso já é outra "estória" e que remete para a condição humana que o nosso outro amigo, W. Shakespeare explica como ninguém nas diversas tragédias humanas que inventou. Neste caso, foi uma ficção que ultrapassou a própria realidade. Agostinho da Silva também a superava, transgredindo-a, reinventando-a, vendo que das raízes lusas estavam sementes cosmopolitas que poderíamos potenciar e, assim, engrandecer-mo-nos fazendo também, nesse movimento metafísico, com que o mundo fosse maior, especialmente por dentro, no seu coração, na sua máquina - agora (mais) pensante e actuante. Contaremos aqui algumas dessas paisagens que tive o privilégio de presenciar a seu lado; as recordações vagas que a luz da cultura recupera num ápice; as ideias que tinha do Mundo e de si próprio; os seus gatos selvagens que o viam como um entre iguais - tamanha a Liberdade que lhes dava; a sua empregada Manuela - que parecia um general ferido sempre com a arma suja e maldisposto com as tropas e com o mundo, mas era um torrão-doce; a vizinha Maria Violante que dedicou a sua vida à UNICEF, amou-o platónicamente durante meio século (além de facultar a TV e o telefone, porque Agostinho dispensava essas coisas e vivia que nem um franciscano - despojado - os outros é que precisavam delas para o contactar. Em suma, com o tempo, tentarei coleccionar algumas dessas notas, já com uma década de memórias, mas sempre com a fotografia mental em gestação, sempre com a máquina dos pensamentos a carburar. Era assim que o via; é assim que o recordo. Com ele aprendi muito. Mais do que na faculdade e nos liceus por onde andei. No fundo, o seu currículo oculto - gravado a lazer na minha cabeça, foi, afinal, o cimento de tudo o que fiz depois, se é que fiz algo. Mas dele extrai a ideia de que podemos ser pedagogos de nós próprios, ser médico e paciente simultaneamente, caçadaor e veado, pescador e peixe, ignorante e sábio. Agostinho da Silva foi tudo isso e muito mais. Sobreviveu à mediocridade e ainda teve a coragem de "lhes" agradecer, quase como uma dádiva de Deus. Mas o grande desafio que dele hoje guardo, num misto de respeito, amizade e ternura, não é só o legado de ensinar e aprender, mas é também aprender a transformar a informação, ou seja, a transformar esse enzima no contexto do processo alquímico - motivada pelo espanto (filosófico), a curiosidade (poética) e a determinação e o rumo (científicos) que fazem nascer coisas nunca antes vistas e dão, assim, satisfação às perplexidades do Homem. Ora é esse banquete do conhecimento que lhe devo. É por esse sentimento irrequieto que lhe estou grato. Gozar de todos esses prazeres e saberes e, ainda por cima, beneficiar da sua amizade é o limite que se pode pedir a quem quer levantar os pés do chão e começar a olhar para o céu sem, contudo, nunca perder de vista o seu horizonte, o seu zénite. Agostinho foi esse biólogo da alma, esse físico da razão, esse matemático da poesia que hoje nos obriga a arrumar no sótão das nossas humildes ideias todas aquelas aptidões que ele nos ensinou. Fê-lo a todos que tiveram também a sorte de privar com ele. Na sua casa ou noutro contexto, que ele rapidamente convertia na casa de alguém. Eis o autor do banquete do conhecimento, qual Sócrates dos novos tempos - que a memória jamais apagará.
  • Por vezes é preciso começarmos a olhar para Portugal de forma colorida. Mas depois lá percebemos que não dispomos nem do pincel nem das várias tintas na paleta de cores que o permitem pintar. Sem pincel, sem tintas, sem paleta, sem cores há, então, que reinventar a pintura, reinventar Portugal. E como é que isso se faz? Relacionando tudo, e tudo sabendo articular, ou seja, esta é a mensagem nuclear do Mestre, por vezes capaz de ligar esta esplêndida rede de faculdades num sistema coerente e fecundo, usando para tanto o tal poder, a tal sabedoria (por vezes popular), a tal generosidade, a tal liberdade, que só por esta forma (integrada) pode educar um povo e conferir-lhe uma identidade e cultura próprias. Esse sistema de pensamento e acção tem um nome: PORTUGAL.
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BIOGRAFIA OFICIAL DE AGOSTINHO DA SILVA
  • 13-02-1906 Nasce no Porto.
  • 1924 Curso Geral dos Liceus - Exame Final 20 valores.
  • 1928 Licenciatura em Letras(Porto) 20 valores.
  • 1930 Aprovado com Mérito Absoluto em concurso para a Cadeira de Geografia e História da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.
  • Doutorado (na Universidade do Porto) "com o Maior Louvor".
  • 1931 Escola Normal Superior de Lisboa18 valores (Exame Final 20 valores).
  • Por encargo da Junta Nacional de Educação funda o Centro de Estudos Filológicos, hoje Centro de Linguística, da Universidade Clássica de Lisboa.
  • 1931/1933 A Junta envia-o a Paris para estudos de História e Literatura na Sorbonne e no Collège de France - entre outros trabalhos "Miguel Eyquem, Senhor de Montaigne" publicado pela Universidade de Coimbra.
  • 1933 Professor efectivo dos Liceus, primeiro classificado do seu grupo (Primeiro) - Colaborador da Revista Pedagógica "Labor".
  • 1935 Demitido por se recusar a cumprir a "Lei Cabral" - A mesma do processo célebre de Fernando Pessoa.
  • 1936 Trabalho, sobre Mística Espanhola, no "Centro de Estudios Historicos" de Madrid, Bolsa do Ministerio de Relaciones Exteriores.
  • 1936/1944 De regresso a Portugal, publica, entre outros trabalhos, os Cadernos "Iniciação"e "Antologia" de divulgação cultural. Exerce o ensino Secundário Particular. Funda Escolas Experimentais de Pedagogia Moderna e pronuncia Conferências por todo o país.
  • 1944/1952 Passa ao Brasil, para Conferências, e lecciona também nos "Colegios Libres" do Uruguai e Argentina (Filosofia e História).
  • Fixado no Brasil (onde lhe é concedida a nacionalidade em 1958) trabalha no Instituto Oswaldo Cruz, no Campo de Ciências Zoológicas, com trabalhos publicados; nos serviços de Investigação Histórica do Ministério das Relações Exteriores e da Biblioteca Nacional; na Fauldade de Fluminense de Filosofia (Filosofia da Educação).
  • 1952/1954 Professor Fundador da Universidade Federal da Paraíba.
  • 1954/1955 Chefia dos Serviços Pedagógicos da Exposição Histórica do IV Centenário de São Paulo.
  • 1955/1959 Professor Fundador da Universidade Federal de Santa Catarina - Director de Cultura do Estado.
  • 1959/1961 Fundador do Centro de Estudos Africanos e Orientais da Universidade Federal da Bahia.
  • Assessor de Política Cultural externa da Presidência da República.
  • 1961 Trabalha na Direcção-Geral de Ensino Superior do Ministério de Educação, com trabalhos publicados pelo mesmo Ministério.
  • Conferencia na Universidade Federal de Goiás, onde funda o Centro de Estudos Goianos.
  • 1961/1969 Professor Fundador da Universidade de Brasília, onde cria e dirige, com o apoio do Governo Português, o "Centro Brasileiro de Estudos Portugueses". É eleito membro da "Academia Internacional de Cultura Portuguesa".
  • 1976 Aposentado como Professor Titular das Universidades Federais do Brasil.
  • 1983 Director do Centro de Estudos Latino-Americanos do Instituo de Relações Internacionais (Universidade Técnica de Lisboa) e do "Gabinete de Apoio" do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (Ministério da Educação). Delegado em Portugal da Universidade de Santa Catarina (Brasil).
  • 03-04-1994 Morre em Lisboa.