Caro Cleber,
- Esta carta do Cleber surge na sequência de uma admiração do próprio: não suponha que Raymond Aron fosse objecto de um tratamento algo desenvolvido na blogaria. Vai daí, à boleia do Aron, o Cleber tropeçou no meu outro blogue - http://www.macroscopio.blogspot.com - encontrou umas coisas de Aron e resolveu reconher-me o gesto através duma cartinha simpática. Pedi autorização ao próprio para a publicar. Ele autorizou. Cá vai..
Muito obrigado pela sua atenção Cleber Nelson
Caro Rui,- Bem, não tive o privilégio de conhecer Aron pessoalmente, isto seria blasfemar. Até porque quando ele faleceu eu devia ter uns 2 anos de idade (considerando 1984 como data de falecimento). Tive o contato com apenas três dos livros dele, e não tive tempo hábil para me dedicar como gostaria à uma leitura mais aprofundada do homem. Os três livros aos quais tive contato são: "As Etapas do Pensamento Sociológico", "Memórias" e um pequeno livro editado no Brasil quando ele esteve na Universiadde de Brasília (UnB) em 1981, entitulado "Raymond Aron na Unb", onde há palestras e comentários, entrevistas e opiniões de Aron.
- Quando me refiro ao "representativismo" que o "ópio" ainda exerce sobre os intelectuais, me refiro aos problemas que são encontrados no meio acadêmico, onde é possível de serem encontrados manifestantes "quase dogmáticos" das "virtudes e desbravamentos" dados por Marx; e que muitas vezes preferem rotular Aron, como forma de deslegitimar a qualidade dos escritos dele, como "pensador burguês", sem ao menos o terem lido, desta forma, influenciando a negativamente a compreensão de alguns conceitos sobre a sociedade em que vivemos.
- Minha área inicial de formação, é Publicidade e Propaganda, logo minha maneira de "encarar o mundo" passa por análises quanto ao consumo e as representações sobre os objetos e valores dissipados na sociedade de consumo e através dos meios midiáticos, ou para ficar nos termos de Manuel Castells, da "Sociedade em Rede".
- Meu interesse por Aron, assim como por Bobbio, Mosca, Pareto e outros pensadores políticos, vem pela genialidade do professor mais cativante que tive, que ministrava a cadeira de Ciência Política no curso de Publicidade e Propaganda. Ao falar de Aron, e constatar a ênfase e explicações dadas por este "monstro", pude perceber a importância que a Ciência Política desempenha para a compreensão do contexto social, das relaçoes de poder e das representações.
- Para ser sincero, o meu interesse por Ciência Política não tem haver, diretamente, com as abordagens e estudos que estou desenvolvendo no curso de mestrado, mas vêm de uma inquietação sobre a representatividade e poder das elites. E sendo um publicitário, meu objeto de estudo para dissertaçaõ de mestrado compreende a abordagem das realções de poder e a representatividade através dos bens de consumo, na região da minha cidade no perídos conhecido como "Milagre Econômico Brasileiro", que é delimitado pelo recorte temporal compreendido entre 1970 e 1973 (quando há o advento da primeira "crise do petróleo").
- Concordo plenamente, que quanto maior for a condição de miséria e insatisfação, "maior" será a capacidade do "velhote barbudo" permanecer como sendo o "grande guia do povo". Ainda mais se tratanto de um país de tamanhos contrastes e desiguladades como é o Brasil. Aproveitando o gancho, quero dizer que moro numa cidade localizada aproxiamadamente 300 kms de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, cidade que sediou, se não me engano, três vezes o famigerado "Fórum Social Mundial" (que nasceu como a antítese do Davos). A cidade de Natal fica no Rio Grande do Norte, região nordeste do país.
- Sobre R. Dreifuss, confeso, é aprimeira vez que "ouço" falar no homem. Prometo olhar com atenção o seu blogue e as indicações de autores que me enviou.
- No momento, devido às possibilidades econômicas, bem como disponibilidade de tempo, não terei a oportunidade de ir conhecer Portugal tão cedo, mas agradeço imensamente o convite e a gentileza que o Sr. tem demonstrado para com esse "inquieto" estudante, que se aproveitou da viabilidade linguística comum (salvo, algumas alterações) da "última rosa do lácio" (palavras do poeta brasileiro Olavo Bilac) para conversar sobre as inquietações sobre o pensar político e social.
- Espero não estar sendo inconveniente, e lhe agradeço infinitamente a possibilidade de discorrer e aprender sobre um tema tão amplo, cativante e influênte como a Ciência Política.
Muito obrigado,
Cleber Nelson