O Vieira, a pregação e o futebol..

• Semen est Verbum Dei, A semente é a palavra de Deus. Quando ouço falar no Vieira fico logo empolgado. Lembro-me da retórica de alta densidade, cristalina, poderosa. Lembro-me da defesa dos Índios no Brasil, antes que o homem branco completasse a chacina. Não era a chacina da baleia do Moby Dick, era a chacina dos índios, que não eram peixes, eram homens e tinha sangue nas veias, como nós.. Muitos pensavam que não. Que tinham tinta da china... Lembro-me ainda dos sermões, dessas pregações dirigidas para o homem se ver a si próprio.

• Com olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo há mister luz, há mister espelho, e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma se não entrar um homem dentro de si mesmo?

• Ora o pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. É suposto, segundo Vieira, que a conversão das almas por meio da pregação depender destes três concursos: de Deus, do pregador, e do ouvinte.

• Ora, navegava eu todo lampeiro num blog chamado Tasca da Cultura - e vejo o Vieira. E logo me preparei para ler esse semeador que prega a acção e o exemplo, e as grandes obras e tudo aquilo de importante que converte o mundo. Porque palavras sem obra são tiro sem bala; atroam, mas não ferem.

• E a razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se, as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa aalma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos.

• Esperava ainda ler coisas sobre o estilo, a estrutura lógica do discurso, pois toda a árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o sermão.

• E era de tudo isto que eu esperava ouvir o Bom Selvagem, esse escritor em potência que desconheço, mas que sei - pela intuição - que tem talento. E não é para a música, é para a prosa: fluída, densa, rigorosa, subtil, sarcástica, enfim, como diria Eça, para uma ironia fina e ao mesmo tempo profunda - qual sorriso da razão. Era deste ramalhete que esperava ouvir compor umas aporias sobre o príncipe dos oradores de marca lusitana, mas de vocação cosmopolita, universal.

• Eis senão quando um outro Vieira me sai da cartola. E para quê? Para falar da bola, dos adeptos, do relvado, da SAD, das sapatilhas e das promessas que fez à família, porque é esse o seu único compromisso. E quem vier irá encontar um clube com um activo tremendo (aqui tenho algumas dúvidas), capaz de comprar sete Centros comerciais Colombo e 140 Estádios de Alvalade (aquele que tem uns azuleijos pirosos e que provoca imensos acidentes aos automobilistas da 2ª Circular, tal é o encadeamento de bom com mau gosto). Bom, este é o Vieira de baixa intensidade, o Luís Filipe. O pneu. Ou melhor, o pneumático..

• Pensei que a Tasca da Cultura se referisse ao Vieira de alta intensidade, ao Pre. António, mas não, o Bom Selvagem deixou-me pregado às tábuas, falando com o construtor de pneus que cada vez que fala assassina todos os diccionários na Europa impedindo o seu renascimento, a custo zero, em tipografias asiáticas.

• Deste fio e deste nó, acho que o BS acaba por matar quem já está morto, e recordar - artificialmente - alguém que nunca existiu, a não ser para o relvado. Ora a razão deste desencontro de almas, de sensibilidades e de saberes, é porque nesta pesca de entendimentos, só quem sabe fazer a rede sabe fazer o lanço. E a rede, resulta do fio e do nó que compõem a malha. Mas quem não a enfia nem ata, como há-de fazer a rede?

• E quem não sabe enfiar nem sabe atar, como há-de pescar homens? Estou certo que para esta caçada, nem um "javali" ficará sem resposta...

• O Vieira - de baixa intensidade - mostrando ao novo treinador a técnica que ele terá de utilizar para que o Clube da Águia, o meu Clube, possa atingir a glória novamente, em 2017. E para alcançar a vitória, o treinador terá de passar a adoptar a técnica de bilhar de bolso demonstrada pelo Presidente (que só cumpre as promessas que fez à família)... Uma técnica muito utilizada no género masculino e que, senão dá para ganhar campeonatos, pelo menos dá para aliviar da urticária... Enfim, Vieira por Vieira, você prefere o qual!?