quarta-feira

O Conto do Há-de Entrar e Sair

O meu Tio Quim - , e aparte laços de consanguinidade, tem uma inteligência superior - e tem também a particularidade de saber contar boas histórias. E quando não as conta prenda-me com livros de contos, que as contam por si - o último dos quais de Dias de Melo, Na memória das Gentes, Livro III, Ed. da Dire. Regional de Orientação Pedagógica da Secretaria de Educação e Cultura de Angra do Heroísmo - grande palavrão... Confesso que chorei a rir com este conto. Rir para dentro, num misto de graça e muita vergonha. É um rir que termina a chorar. Pois nada há de pior na vida do que vivermos sem consciência de tal. Pela 1ª vez, desde que pratico esta arte da blogaria, deparo-me com a dificuldade de identificar uma imagem ajustada à história. Assim, se a coisa não for adequada, que me desculpem os leitores, mas a "estória" - creio - vale bem por si. E também nos enche de vergonha e pudor. Mas sempre a rir..

Enfim, para assinalar essa dádiva que muito agradeço - reproduzo aqui um desses contos. Pior que etsa "estória" só a do rapaz que se julga padecer do ciclo menstrual próprio das mulheres.. Elas estão sempre a acontecer, e a Natureza - nestas coisas - não perdoa nem olha a quem... Cumpre o capricho da sua vontade e pronto.

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  • O Conto do Há-de Entrar e Sair
Era um padre tamém qu'ia pra lá ter com a mulher quando o marido tava fora de casa. E agora o marido um dia chegou mais cedo, e os vizinhos faziam ûa risada, faziam ûa risada pra fazer pouco do home, que'ele qu'ia apanhar o padre em casa, lembrando-se qu'ele que s'ia trancar no padre. Mas ele estranhou aquela risada e depois chega à porta, e vê lá o padre, e olhou pra trás e diz:

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- Tá a rir porque eles disseram qu'aquele caldeirão que nós temos ali nã serve na tua cabeça. E eu aporfiei que servia e qu'ias experimentar e qu'eles qu'iam ver que servia. E eles tão a rir é por causa disso. Essa gente todo hoje tem questionado por causa disso.

E ele disse:

- Nã serve?! Serve!
E depois ela vai buscar o caldeirão e bota-lo na cabeça. Oh! Aquilo é que foi rir! E ele vira-se pra eles e diz:
- Há-de entrar e sair todas as vezes e quando ê quiser, porque é da minha vontade e da minha mulher!
Ele tinha o caldeirão na cabeça, e o padre escapoliu-se e foi-se embora.

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