Ruisinho:
- Este mail é dedicado ao meu professor de Kimbundu, que no Ano Lectivo de 1959/60, me tentou ensinar alguma coisa daquela língua que se fala em Angola, na zona norte e na região de Luanda, e que pertence ao grupo das Línguas Bantu, juntamente com o Umbundu, que se fala para o sul, na região de Benguela, na Lunda e no planalto central, e constituem as duas grandes línguas angolanas.
- Era um senhor totalmente careca, sempre vestido a preceito, como era quase obrigatório naquele tempo, e de maneiras muito educadas, quase nos pedindo desculpa de ter que nos ensinar aquela língua esquisita, mas que não podia deixar de o fazer porque era para isso que lhe pagavam. Aos anos que já lá vão, provavelmente, já não será vivo, mas oxalá que me engane e seja apenas muito, muito velhinho.
- Fazia parte do programa uma fábula da Raposa e do Galo que registei na minha memória e ao fim de todos estes anos ainda guardo esse registo o que não deixa de ser motivo de orgulho para o professor e de desespero de todos os meus colegas, incluindo os mais marrões, que a esta hora já a esqueceram. Mas a memória tem destas coisas. Funciona como uma espécie de ficheiro ou arquivo da nossa vida mas seleccionando assuntos e episódios de acordo com um critério que só ela conhece. Mais um mistério para o nosso António Damásio e a sua esposa Hana explicarem.
- Começa assim: EME NGATELETELE KOLOMBOLO DIA SANGI ( lê-se como se escreve, abrindo as vogais como fazem os brasileiros) o que significa, traduzido para o português, o seguinte: Costumava contar, repetidas vezes, a história de um galo acasalado com uma galinha. A repetição do sufixo TELE quer dizer: muitas vezes.
A fábula continuava e era assim:
- No tempo em que os animais falavam, galos e raposas conviviam pacificamente. A explicação para este fenómeno residia na crista do galo:
- Aquela coisa vermelha, cheia de bicos, amedrontava a raposa que não sabendo o que era considerava-a como uma arma secreta.
- Um dia, encontraram-se, e como era habitual, meteram conversa. A páginas tantas, a raposa não conseguiu refrear a sua curiosidade e, como quem não quer a coisa, perguntou: ó galo, o que é isso que tens aí em cima da cabeça? o galo, desprevenido, na sua boa fé, respondeu: xixitu ngo, são carnes sòmente. Ouvindo isto a raposa comeu o galo e acabou-se, para todo o sempre, a convivência pacífica.
- Moral da história: Nunca contes aos teus amigos as tuas fraquezas porque, um dia, eles poderão deixar de ser teus amigos e utilizarão contra ti as tuas próprias fraquezas.
Tio Quim